Bate o sinal e logo ele entra porta adentro
Coloca suas pastas e diários sobre a mesa e olha firmemente para algumas cabeças que não conseguem acompanhar o seu raciocínio e logo se tremem com o olhar fulminante que ele lança pra amedrontar...
E eu fico na minha, estou sempre brincando de amor Real, hora com o nome do professor de Espanhol e hora com o nome do professor de química...
Ai Pollyanna, que imaginação fértil. Hein?
Alô, Alô, Alô, acordando!
Sinto vontade de levantar da cadeira e dançar quando ele começa a recitar Gonçalves Dias, andando de um lado pro outro engraçadamente dizendo:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá... (Gonçalves Dias)
Nesse momento eu já estou escutando o cantar do Sabiá e tudo vira festa...
Esperamos o ano inteiro por uma viagem a Paraty - RJ...
Pobre quando nunca sai de casa aproveita a viagem cada segundo...
E eu, aproveitei cada minuto, segundo e hora, dessa viagem.(Sou pobre) kkk!
Vigiada o tempo inteiro pelo professor de literatura que sentia calafrios perto de
mim e temia que eu pudesse incendiar a Pousada por ser a mais velha da turma...
Ele olhava nos meus olhos e das meninas e dizia: Se vocês aprontarem, ligo pra Mãe de vocês e mando vir buscar aqui em Paraty-RJ – Não deixo voltar no ônibus da escola...
E nós ficávamos como as patinhas do lago que já estavam cansadas de nadar de um lado pro outro...
Será que ele pensava que eu tinha uma mente transviada?
Credo, que péssimo!
Mas como nós éramos as chamadas “Pestes” da turma, nós demos o nosso jeitinho brasileiro pra tudo...
Passamos trotes nos outros alunos, andamos e corremos pelos corredores da pousada depois das 24 horas só de pirraça com o professor de Literatura...
E pela manhã estávamos iguais uns anjos tomando nosso café sem dar bandeira que aprontamos a noite toda sem parar...
O professor não conseguiu evitar que eu voltasse pra casa a viagem inteira em pé e beijando o Felipe como uma louca...
Eu confesso: nunca beijei tanto na vida...
Sem dúvidas essa foi uma das melhores viagens da minha vida.
Mas como tudo que é bom acaba, estamos a caminho do nosso pequeno Cachoeiro.
O dia raiou e tudo começou novamente, dias e mais dias e mais dias de aulas de literatura...
E vigiando o corredor da sala Mato Grosso do Sul, eu grito, silêncio lá vem o Adelmo...
Corro e sento na minha carteira.
Ufa!
Vou embora pra essa terra onde canta o Sabiá, por mais que eu ainda não tenha encontrado sua localização no mapa...
Hei de ver o Sabiá cantar no meu ouvido e me arrancar sorrisos por ser tão privilegiada a ter alguém que me ensina tantas coisas boas e me faz ver a vida com mais amor...
E me perdendo entre poesias e sonetos eu vou vivendo os meus contos de fadas na vida real e buscando meu lugar ao sol em cima de trilhos fortes.
Eu não quero parar o tempo, também não gostaria de voltar ao ano 2000, por que mesmo tendo reprovado em matemática nesse ano, eu não mudaria nada...
Sentaria nos fundos da sala, voltaria para a primeira cadeira da fila apenas nas aulas de literatura.
Por que a minha vida é isso, um grande conto inexplicável.
E que Deus nunca me impeça de ver as coisas que eu sei,
Que a morte de algumas coisas que acredito nunca me cegue.
Que a humildade em mim permaneça e que ao encontrar meu professor de literatura pelas ruas do Pequeno Cachoeiro, ele me reconheça apenas no sorriso que nunca mudará, por que eu ainda hei de fazê-lo chorar lendo as coisas toscas que escrevo.
Pois quem mandou ele me ensinar tão bem?
Não é mesmo?
Aprendi tudo direitinho para minha sorte.
Ao meu professor de literatura, muito obrigada por ter me suportado e me ensinado tantas coisas boas que mesmo dez anos depois são impossíveis de esquecer...
Obrigada, obrigada, obrigada!
Que a minha vida, a sua vida, e a vida de todos os loucos que passam por este livro virtual sejam apenas Poesia.
Assim seremos sempre seres encantados por que a nossa sensibilidade não permitirá que chegue até nós à famosa morte...
Se o criador nos levar, que nos leve pra lá de onde canta esse tal Sabiá, por que assim continuaremos a falar pensar e escrever absurdos que saem impulsivamente das nossas almas pecadoras...
E aqueles que caçoam de nós passaram. E nós passarinhos!
Alguém está me chamando.
Será o sabiá?
Será o professor que está nesse momento a pensar?
Não sei.
Já vou.
Acho que o Sabiá está na minha porta.
Preciso ir, já é hora de me despedir.
Até o próximo embarque professor!
Meu Professor de Literatura - Pollyanna Alves - 12/09/2010
(Citação da Canção do Exílio de autoria de Gonçalves Dias – Todos os direitos do Autor reservados)